sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Homens também são mulheres

Uma das coisas que mais gosto de fazer, é observar o comportamento humano, leia-se alheio, porque eu, me comporto exatamente como todo mundo, então, não há surpresa alguma.

Eu, na infância, classifiquei os seres humanos em dois gêneros, homens e mulheres. Na adolescência, eu descobri as derivações, gays, lésbicas e simpatizantes.

Mas em toda a minha existência, sempre houveram verdades,títulos de livros ou mesmo ditos populares que pra mim eram inquestionáveis, homens e mulheres no meu entendimento eram seres distintos, tipo:

- “Homens são de vênus e mulheres são o próprio sol”,

- Homens são fabricados em série,

- Quem viu um viu todos,

- Só muda o endereço…

E por aí vai. Eu conheci um ou outro que eram um pouquinho diferentes, mas em geral, foi necessário ler o manual de um pra entender o funcionamento de todo o resto. Até bom pouco tempo atrás…

Quando fui surpreendida por uma verdade, até então, pra mim inimaginável. Precisei reprogramar meu pensamento diante da nova descoberta.

Homens, também são mulheres.

Peraí. Não saia me julgando apressadamente e achando que eu pirei.

Vou explicar de onde tirei isso.

Os homens sempre fizeram questão de estigmatizar o sexo feminino.

Esposas, já ouvi muitas vezes, serem chamadas de polícia, radio-patroa e alguns termos claustrofóbicos com significado semelhante.

Mulher tem fama de ser chata, grudenta, ligar mil vezes, correr atrás, fazer dramas, verificar mil vezes se foram bloqueadas no msn, revistar colarinhos, xeretar e-mails e outras cositas nada melhores do que as já citadas.

Enquanto homens, seres completamente centrados, j – a – m – a – i – s passariam por um constrangimento desses. Poderia doer até a alma rachar ao meio, mas eles não usariam de qualquer meio de comunicação para fazer súplicas ou rastejar por mulher nenhuma.

Bem, essa era a teoria que eu gostava de acreditar.

Juro, sou meio conservadora (ou andei dividindo da mesma bebida da Alice, a tal, do país das maravilhas). Gosto que cada gênero tenha seus papeis bem definidos nos padrões de comportamento preestabelecidos pelos preconceitos da sociedade.

Dia desses aconteceu com uma amiga minha. Ela deu um basta numa relação que vinha acontecendo de forma instatisfatória, segundo os parâmetros do que ela definiu como sendo um bom namoro. Bastou o cara concordar com ela, para o surto acontecer.

Ela queria ele de volta, afinal, ele era o homem com o qual ela tinha sonhado a vida toda, passou o final de semana ligando e mandando torpedos, para os quais ele enviava respostas grosseiras e humilhantes – quando respondia (mulheres, não pensem mal da moça, apenas jure pra mim, que você nunca, nunquinha mesmo, fez nada parecido).

Na segunda fomos tomar um chopp (ela) coca-light (eu). Eu tentei usar a já gasta frase “amiga, não faz mais isso, fica quietinha, assim ele só vai te humilhar um pouquinho mais”, e ela respodeu: “eu não consigo”.

Eu entendi o significado daquilo, ela realmente não ia parar.

Na saída, confisquei o celular dela e levei comigo, assim, ninguém ofenderia ninguém, pelo menos não daquele telefone.

Foi nesse dia que tudo ficou claro pra mim.

Eu já vinha acompanhando há algum tempo, outras situações, que me levaram a alterar minhas crenças. Mas nesse dia eu vi um espécime típico do sexo masculino, agindo igualzinho, nós, as mulheres, fazemos.

A casa estava super silenciosa quando escutei aquele blim blom tipico de torpedo chegando. E eu, nem havia tocado em nada. Fui espiar, afinal, se ela me deixou sair com o telefone sem protestar, achei que estava avalizada para isso. Eis que encontro, uma mensagem, daquelas, bem dissimulada, que achei que só uma mulher fosse capaz de redigir.

Nem precisava de um microscópio muito potente pra ler nas entrelinhas “Eu nem te quero mesmo, mas onde você foi que parou de me dar atenção, ou as minhas grosserias?!”

Achei engraçado, por instantes, até achei que o objetivo tinha sido atingido, afinal, canja de galinha e um pouquinho de silêncio nunca fizeram mal nenhum a ninguém. Mas eis que lá pelo meio-dia, do dia seguinte o telefone tocou umas mil vezes. Sem ninguém pra atendê-lo ou dar alguma atenção ao pobre coitado que estava colocando toda sua porção mulher pra fora, os torpedos começaram. Não vou fazer um relato completo, mas haviam palavras do tipo: me perdoa, volta, me desculpa, me atende e fala comigo pelo menos um minuto…

No fim do dia, já agendada para devolver o aparelho, com a dona fazendo juras de não querer nunca mais o autor das mulherzices, o telefone tocou novamente. Distraída em meio a outras atividades, instintivamente atendi (o aparelho, que tocou de dentro da bolsa, era igual ao meu).

Era o próprio, retornando uma das inúmeras ligações que ela havia feito importumando ele em meio a uma reunião.

Tomada de uma cretinice incontrolável, fiz apenas uma pergunta, mas só para poder concluir adequadamente a minha teoria:

- Ela estava te ligando desse número?

Hoje, não sei como eles estão. Mas posso imaginar. O silêncio dela muito me diz.

Mas aos que me julgarão, essa teoria não foi desenvolvida baseada apenas nesse caso, muitas outras experiências aconteceram que me fizeram chegar a essa conclusão. Mas a observação da minha própria vida, me causa curiosidade em níveis bem menores do que outras que posso observar.

Se isso é bom ou ruim, não sei, mas experimenta um dia inverter o jogo, e devolver a um ouvido masculine todos os clichés que já ouviu, já que eles estão utilizando nossos dramalhões, seria pelo menos divertido tentar escrever o título ao contrário…