Hoje estava fazendo as unhas, quando uma colega de salão atendeu o telefone aos berros.
Ooo queee? Neemm pensar! Camiseta eu não quero. Pode escolher outro presente.
Fazer as unhas pra mim pode significar que estou em dois estados: muito interessada nas histórias de vida da manicure ou, como era o caso daquele momento, em outra dimensão, absorta em meus próprios pensamentos sem notar que tem alguém em volta.
Mas a colega gritou muito alto.
Nem parei pra avaliar se foi deselegante, inapropriado ou prestei atenção no restante do telefonema, pois imediatamente me perdi em outro tipo de devaneio.
Lembrei da Isabella muito preocupada com o presente que iria me dar no dia das mães.
Me ofereci pra levá-la pra comprar algo, mas ela já me conhece, argumentou que assim não seria surpresa (eu adoro surpresas).
Como um pensamento puxa outro comecei lembrar das amigas postando no facebook sobre as apresentações de dia das mães nas escolas.
Estou numa expectativa gigantesca, pois este ano terei minha primeira apresentação de filha, e a escola, pra me deixar um pouco mais aflita, vai fazer só na semana que vem….
A escola anterior fazia diferente, as mães é que preparavam uma apresentação para a turma.
Senti saudades disso.
E do significado, que só hoje compreendi.
O dia das mães é a data com maior apelo comercial do calendário, com abuso descarado do apelo emocional.
Sem hipocrisias, eu caio, e gosto.
Mas está tudo invertido.
Não somos nós as mães que ensinamos nada a ninguém.
Falo pela minha amostragem de 1m e 20cm.
Desde que nasceu, está me ensinando cada dia um pouquinho a ser uma pessoa melhor.
Só não conseguiu me ensinar a cozinhar mas por generosidade, gosto pessoal ou instinto de sobrevivência come do que eu faço.
Aprendi a ter paciência, pois depois que entram na barriga, precisa esperar ficar prontinho pra sair, não adianta atormentar o pobre do radiologista pois não dá pra ficar espiando lá dentro da barriga, o remédio é esperar mesmo.
Me ensinou que filhos crescem, independente da nossa vontade e que por mais que se esperneie, crianças pensam e tem vontade própria.
M ensinou a do alto da minha “adultez”, descer no escorrega com vento no rosto e só por um instante não precisar me sentir nem adulta ou responsável por nada.
A Bella, me ensinou que trabalhar é melhor, minha ambição maior agora é voltar pra casa no fim do dia e encontrá-la sorrindo.
Me ensinou que posso dirigir devagar e chegar do mesmo jeito, mas principalmente, que preciso chegar inteira, onde quer que esteja indo.
Me ensinou que não sou tão mais inteligente que ela, devido ao número de vezes que já me sugeriu pesquisar as respostas que eu não soube dar, no google.
Me mostrou que posso ter medo de perder e amar alguém mais do que a mim mesma.
E também que posso estar sendo horrivelmente cliché e não sentir um pingo de vergonha.
Adoro rasgar o papel de um presente e achar a surpresa, mas nem camiseta, nem nada, a Bella é meu melhor presente.