Hoje, dirigindo com o ar condicionado no máximo – mas nem por isso com menos calor – me vi xingando mentalmente o mundo.
Os pensamentos que não paravam nem por um minuto de resmungar, falavam assim:
- Alguém em sã consciência hoje irá dizer que gosta de verão???
- Toda vez que eu comento que amo tempestades com trovões e dias cinzentos, costumam achar tudo muito depressivo. Mas tem algo mais depressivo do que trabalhar de calça jeans num dia quente e o ar estragar?
- Além do calor, xinguei os prestadores de serviço que vivem de comissão, precisam vender e dizem assim “em seguida retorno tua ligação” e nunca mais ligam (será que a procura está maior que a oferta?)
- Teve lugar pra resmungar com uma amiga que me perguntou o que fazer com o atual ex-namorado (digo atual ex, porque já acabaram e voltaram tantas vezes que nunca se sabe que espécie de atual ele é…). Ela me chamou de grossa, só porque ao me perguntar o que fazer com o ex que não queria falar com ela eu sugeri que ela ficasse em silêncio, afinal se ele não quer ouvir, ela vai falar pra quem?
Foi nesse instante que o mau humor começou a dissipar.
Não por pensar que a desgraça alheia pode ser pior que o calor, mas porque lembrei que vi no twitter um comentário sobre o blog que a Cínthya Verri fez pro namorado, chamado “Matando Carpinejar”.
Lembrei da Cínthya, não somente pelo texto, mas também por ter aprendido com ela algumas coisas que me tornaram um pouquinho melhor (não melhor para os outros, mas melhor comigo mesma, já que minha auto-crítica sempre foi minha pior inimiga).
Tive alguns terapeutas, todos com seus méritos, já que da experiência com cada um, em momentos completamente diferentes da vida, acabei descobrindo um pouquinho mais a meu respeito.
Mas a Cínthya tem um lugar especial, porque embora tenha durado menos que os outros, compartilhou de descobertas (óbvias a olho nu, mas que sempre tive dificuldade em admitir).
Ouvi dela algumas frases que mudaram a minha vida pra sempre e que me deixam muito feliz quando posso reconhecer nos outros algo que os deixa cegos mas eu já consegui enxergar.
Logo no início, sem piedade, ela resumiu em três palavras o diagnóstico da doença mais terrível que eu já sofri:
- Você está apaixonada!
Eu teimosa como sou, contestei.
- Tô nada, to doente.
Ela argumentou – tá sim!
Eu chorava baldes de lágrimas e tentava contra-argumentar - não! Estar apaixonado é bom, isso é que estou sentindo é horrível! É sem controle. Fico feliz só de a pessoa me dar bom dia e se não dá é um deusnosacuda. Não posso ficar assim suscetível ao humor de outra pessoa, EU mando em mim!
Foi aí que Cínthya, meio sorrindo, com aquela voz doce que ela tem, me disse a primeira frase que mudou a minha vida:
- Paixão é patólogico! É um sentimento doloroso e patológico, porque, via de regra, o indivíduo perde a sua individualidade, a sua identidade e o seu poder de raciocínio.
Desde aquele dia, consegui perdoar algumas de minhas loucuras, afinal, que culpa tinha eu de estar doente. Ela não quis me medicar porque afirmou que pílulas não resolveriam o que eu estava sentindo, além do fato de que ela conhecia pouquíssimas pessoas capazes de se deixar sentir o que eu estava sentindo.
Me senti, com essa explicação avalizada para viver o tal sentimento e parti em busca da cura.
Nesse processo todo, obviamente chorei e me odiei por outros milhares de vezes, mas em meio a outra sessão de choradeira (sim, sou chorona, e daí?!) quando o tal motivo da doença decidiu nunca mais falar comigo (preste atenção sempre no sentido da palavra nunca mais, pois as vezes, não dura mais do que um instante) que ela me disse a outra grande frase, que quando abstraí, mudou a minha vida.
- Não podemos controlar as outras pessoas (o que sentem, o que pensam, o que fazem…)
Isso fez total diferença na minha vida.
De fato não há como controlar nem os próprios pensamentos.
Eu passei a minha vida toda tentando controlar o que as pessoas pensavam a meu respeito, sem me dar conta que cada um vai pensar o que quiser e não há nada que eu possa fazer.
Lembrei da minha terapeuta no instante máximo do mau humor, não porque ela me desperte esse sentimento, mas porque a frase que me disse muito, estava diretamente ligada ao assunto discutido com a amiga que me chamou de grossa.
De fato, não sou a simpatia em pessoa, sou sarcástica, irônica e praquelas pessoas mais sensíveis sou considerada até meio ácida (mas essa é a opinião das outras pessoas, porque eu mesma e algumas pessoas que me conhecem um pouquinho melhor me descreveriam como engraçada e talvez até doce em alguns momentos).
Mas porque nós, as pessoas onde predominam os cromossomos XX, esquecemos dessa falta de poder sobre o outro, quando alguém não quer falar com a gente?
Porque ao invés de calar, costumamos insitir incessantemente com a frase – por que você não quer falar comigo?
Até hoje em minhas andanças pela vida, não conheci nenhum caso onde isso não acabasse em irritação profunda e brigas. Inclusive praticamente obrigando (caso houvesse esse poder) o outro a dizer coisas que não pretendia, pelo simples fato de que a vontade de calar não foi aceita.
Não digo que não sou insistente, sou capaz de chorar, rolar no chão, pedir por favor e levar qualquer criatura a tal estado de irritação quando quero respostas.
Não posso, não quer dizer não vou.
Mas a aceitação da falta de poder faz maravilhas.
Depois de muita terapia, algum amadurecimento e muitos telefones desligados “assim, meio que de repente” aprendi.Se alguém quer se manter em silêncio, vá lá, vou respeitar. Mas e você, quer conversar a respeito da pessoa que não quer falar comigo?