terça-feira, 10 de novembro de 2009

Sonhos Impossíveis

Qual seu maior sonho?

Como alguém com DNA perfeitamente feminino, sonho com a maternidade perfeita, jóias, viagens, sapatos (hummm sapatos…), mas acho tudo isso perfeitamente realizável, porém, tenho um sonho impossível.

Um grande sonho que eu diria que é irrealizável em uma vida.

Eu queria ler todos os livros do mundo.

Nada desperta mais meu lado consumista do que uma livraria de aeroporto.

Sim, precisam ser as livrarias de aeroporto.

Não sei se os livros ficam expostos de maneira diferente, ou se é o clima da viagem (não preciso ser necessariamente a protagonista da viagem) mas nem o free shop tem tanto poder sobre minha conta bancária.

Sim, todos. Nem que fosse apenas, os títulos ou as resenhas. Mas eu queria.

Em alguns casos me basta ler o título mesmo, como foi o caso de um livro chamado “A fila anda, mas não empurra que é pior”, falando sério, não estava com nem um pouco de vontade de ler um livro de marketing com título de auto-ajuda pra corações partidos.

Fui pra outra prateleira e achei uma autora da qual li apenas um livro, mas tenho todos na lista, porque acho os títulos incríveis.

Por exemplo, você não ficaria com vontade de ler um livro chamado “A vida sexual da mulher feia”?

Não que eu seja feia, muito menos que tenha vida sexual, mas juro que imediatamente fico com vontade de saber o que está escrito ali, e, principalmente, se as feias tem vida sexual, por que é que eu que nem sou tão feia assim estou aqui questionando a minha….

Aliás, falando nisso, a Claudia Tajes tem títulos ótimos para todos os livros dela, tanto, que dentro do meu sonho de ler todos os livros do mundo, está definido como prioridade, começar pelos livros dela.

Porém, esse desejo me causou um conflito maior.

Eu já sei que não vou conseguir atingir meu objetivo, já que alguns livros, eu juro que tentei, mas não consegui ler de jeito nenhum.

“O Mundo de Sofia” por exemplo, eu comprei por indicação de uma pessoa muito inteligente e eu, queria ficar igualzinha a ela. Não vai ser possível, porque pra começar, hoje, acredito que já sou até mais inteligente que a pessoa que me recomendou o livro, e depois, porque detesto filosofia, pelo menos, essa forma de explicar a filosofia, se não estiver aplicada em exemplos práticos , sem chance.

“A Gente se Acostuma com o Fim do Mundo”, acho que o dia em que achei que poderia ler algo com esse título, deveria estar me sentindo meio deprimida, porque não sou conformista e nem quero me acostumar com o fim do mundo, sou ariana de carteirinha e se alguém me disser que o fim do mundo está próximo, vou fazê-lo girar ao contrário, somente para provar que não vai acabar e que ninguém vai se acostumar coisa nenhuma, logo, não consegui nem ler três páginas.

“Como Conviver com um Idiota”, juro que achei que se tratava de uma piada.Não era! O autor estava seriamente tratando de amenizar as dificuldades na convivência com pessoas chamadas idiotas. Mas pensando a fundo, todos, em algum momento do dia cometemos alguma idiotice, e sinceramente, prefiro ser uma idiota autêntica, do que uma idiota patética que usa de uma estratégia pra conviver com um semelhante.

“O que Toda Mulher Inteligente Precisa Saber” , humm, esse eu li, se precisava saber, estou sabendo…

Mas eu estava falando do grande dilema que os títulos da Cláudia me causaram.

Porque funciona assim. Ora estou sem dinheiro pra comprar livros, ora sem tempo pra ler como eu gostaria.

Agora eu estou com tempo, mas estou sem dinheiro.

Aí descobri, incríveis arquivos de livros em pdf na internet, completamente disponíveis para ser baixados.

Mas eu gosto de segurar o livro.

E, para incompreensão da minha filha, adoro ler no banheiro. Assim, de sentar lá, de roupa mesmo e ficar em paz.

Mas imagina a patética cena de alguém com seu computador no colo, sentado confortávelmente no vaso sanitário lendo, não dá, ainda mais porque a bateria certamente acabará no melhor da história.

Além do que, um livro, 15 x 21cm, cabe confortávelmente na minha mão, gosto do som das páginas virando, e pra piorar, gosto de papel branco.

Até aqui, estou desconsiderando como é que eles foram parar na internet e como é que vieram parar na minha mão (mas certamente consultei a outra metade da minha inteligência, que chamo carinhosamente de google, que me remeteram a um link, que certamente não era pago e eu digitei as letrinhas de segurança e o tal pdf hoje me assombra).

Digo me assombra, porque só achei um dos livros da Cláudia por lá, mas não achei justo (nem confortável) ler, sabendo que ela deve ter usado suas madrugadas escrevendo, ou passou horas dizendo “ahãms” para as perguntas de seu filho enquanto escrevia, pra eu ignorar seus direitos autorais e ler de graça…

Mas também existe um outro ponto, eu matriculei minha filha numa escola, cujo conceito é preservar a natureza o tempo todo. Natureba mesmo

Ela acabou de fazer quatro anos, mas passa o tempo todo me chamando a atenção para meus pequenos deslizes antiecológicos.

- Mamãe, pra secar as mãos, você só precisa de duas folhas (alguém consegue MESMO secar as mãos com apenas duas folhas?)

- Ou, vamos usar a escada ao invés do elevador pra poupar a energia do planeta?

- Ou, por que não reciclamos o lixo?

* Detalhe nós separamos o lixo sim, porém como não tem o símbolo de reciclável na lixeira, o fato foi completamente ignorado pela exigente pessoa com quem convivo em meu lar.

Então, com essas cobranças diárias, as quais sou submetida, me sinto um tanto constrangida em cortar as arvorezinhas do planeta afim de fazer papel clorado, poluindo os rios, que necessitariam de muito mais tratamento para tornar suas águas potáveis, somente para satisfazer a minha vontade de ler todos os livros do mundo.

Mas também, embora tenha baixado o livro, me sinto moralmente impedida de ler. Estava lá, disponível, não fui eu que coloquei, e a Cláudia nem sabe que cara eu tenho. Mas eu sei que cara ela tem. Conheci o pai do filho dela e com frequência a encontro por aí, e aquela maldita voz da minha consciência, que costuma ser um tanto cdf e insistente, ficaria jogando o assunto na minha cara.

Que dilema!

E agora tal como Hamlet estou a pensar, ler ou não ler, eis a questão…

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